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sábado, 17 de setembro de 2011

Sobre mudanças e leveza



É incrível como mudanças (voluntárias) me fazem bem. Sejam elas grandes, como mudar de país, ou pequenas, como mudar de quarto, mudar pequenos hábitos. Parece que uma pequena mudança vem acompanhada de várias outras, uma leva à outra.

Mudar(se) nos faz jogar fora muita coisa. Às vezes é preciso se livrar do que não serve mais, mas que insistentemente guardamos, mesmo que o peso seja sufocante. Parece mesmo que necessitamos de certa densidade nas nossas vidas. É difícil tornar-se realmente livre de medos, pensamentos, traumas, coisas do passado. Na verdade, é impossível.

Nunca vamos conseguir mudar completamente, nos livrarmos de tudo o que não nos faz bem e que nos impede, muitas vezes, de seguir em frente, de tomar alguma decisão importante, de dar um rumo diferente a nossas vidas. Mas, acredito que dá para tornar as coisas um pouco mais fáceis, um pouco mais leves... Não guardar tudo para si, não “deixar passar” situações e sentimentos que nos incomodam, tentar reconhecer e mudar interna e externamente o que não está funcionando e nos deixando evoluir.

“A ausência total de fardo leva o ser humano a se tornar mais leve do que o ar... Seus movimentos a ser tão livres como insignificantes. O que escolher, então? O peso ou a leveza?”. Trecho de A Insustentável leveza do ser, de Kundera, que nos faz refletir sobre o peso que gostamos de carregar. É como se todo esse fardo fosse necessário para que soubéssemos que existimos e que temos um papel no mundo, na vida das pessoas.

Então, o melhor seria não buscar a leveza plena (e provavelmente inalcançável) e tentar buscar apenas uma forma de deixar o “fardo” menos pesado? O fator mudança pode colaborar com essa tarefa...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Coisas esquecidas numa "folha" qualquer...

Permanecera ali, por um triz
Mas a deixaram
e
s
v
a
i
r
-
s
e
.
.
.
Arranhando o sentido tátil
Riscando as digitais

E as falanges: todas cúmplices
Reverberaram e depois...


Dia gris.
[05/07/06]

No princípio,
Era só um mundinho todo criado
Para si
Ao qual fazia parte...

Lá pelos décimos tantos
Descobriu que havia muita coisa
Além daquela redoma
Na qual estava habituado até então...

Depois que trocara todos os dentes-de-leite
Percebeu que aqueles heróis
Não passavam de seres humanos
Sujeitos com verbos
Aprisionados em orações
E sem deixar de ter adjetivos
Não muito adequados...

Prestes a alcançar o vigésimo
Notou que teria que
Conquistar um espaço só seu
E isso, ao contrário do princípio,
Ninguém podia criar...

O depois dependia desesperadamente
Do agora
E o antes, queria a independência
De álbuns de fotografia
Esquecidos, e às vezes lembrados,
Num canto qualquer do armário...

E enquanto os segundos dançam, unilaterais
Dois pra lá e dois pra lá
E cada vez que de soslaio
Se volta a cabeça para adiante...

Apresentam-se, misteriosamente
Rumo a um lugar qualquer
Ou a lugar nenhum...
O que se descobrirá num próximo movimento ?
[25/09/06]

De volta...

15/08/11 – Aeroporto de Lisboa

E começa mais uma etapa... Ainda na mesma fase de estudos na França, mas assim mesmo, uma nova etapa. Muita coisa mudou em um ano. Já não vou encontrar as mesmas pessoas, quer dizer, só alguns poucos amigos que continuam comigo... Quantas pessoas passaram na minha vida em um ano, quantas sensações, quanta coisa aconteceu, quanta coisa mudou de repente. O tempo aqui na Europa parece passar ainda mais rápido que de costume, porém a vida se apresenta tão intensa que vivemos anos em poucos meses. Às vezes isso assusta. Às vezes os sentimentos não acompanham essa velocidade feroz em que as coisas mudam.

É preciso parar, respirar, refletir, viver. Muitas vezes, talvez, seja melhor nem pensar...

25/08/11 – Grenoble

Dez dias depois do meu retorno me sinto só. Tenho alguns amigos do ano passado que continuam por aqui, mas é como se eles não estivessem, em alguns momentos. Cada um parece viver sua vida dentro da sua própria bolha, dentro de seus “quartos-brancos”. Aquela vida em grupo que tínhamos perdeu a força, por mais que a gente tente mantê-la em alguns poucos instantes em que nos reunimos. Talvez seja porque perdemos muitos de nossos companheiros e os novos ainda não nos dão tanta abertura.

Sinto que a minha amizade já não tem tanta força para alguns. É natural, eu sei. Isso me deixa nostálgica, querendo que o tempo volte para eu poder reviver todas essas lembranças que insistem em vir à mente, tão nítidas. Sinto que ainda não voltei a ser a mesma de seis meses atrás. Pensando bem, acho que isso é impossível. Alguns acontecimentos marcam demais a nossa vida, e pode mudar quem somos ou como pensamos para sempre.